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AGLAJA VETERANYI
( ROMÊNIA )
( 1962- 2002 )
Aglaja Veteranyi nasce em uma famíilia de artistas circenses.
Vive uma infância nômade, seguindo os pais em turnês através da Europa, América do Sul e África. Também participa ativamente dos espetáculos do circo, desde os três anos. Em 1977 a família foge da ditadura romena e se refugia em Zurique. Aos 15 anos, Aglaja ainda era analfabeta. Aprende, como autodidata uma nova língua, o alemão.
Na Suíça, estuda arte dramática e a partir de 1982, dedica-se à literatura. Em 1993, com o escritor René Oberholzer, funda o grupo literário experimental Die Wortepumpe. Em 1996, com seu companheiro Jens Nielsen, constitui o grupo teatral Die Engelmaschine.
Seus textos começam a ser publicados em antologias e revistas literárias. Em 1999, sai seu primeiro romance, Warum das Kind in der Polenta kocht (trad. pt. Por que a criança cozinha na polenta). Trata-se de uma história fortemente autobiográfica, narrada por uma menina que se defende da degradação que a rodeia através da imaginação infantil. A protagonista é filha de artistas de circo - um palhaço e uma mulher que se faz pendurar pelos cabelos, no meio do picadeiro. Sua irmã a distrai do transe provocado pelo número da mãe, noite após noite, contando-lhe a lenda romena do menino que é cozido na polenta. Assim, ambas conseguem escapar da realidade e reinventar suas vidas a partir do absurdo.
O livro teve grande sucesso, tendo sido traduzido em diversas línguas e adaptado para o teatro. Recebeu vários prêmios, dentre os quais o Adelbert-von-Chamisso-Preis da Fundação Robert Bosch (2000) e o Berliner Kunstpreis.
Em 2002, aos 39 anos, Aglaya Veteranyi se suicida, afogando-se ao lago de Zurique.
Seu segundo romance, Das Regal der letzten Atemzüge (trad. pt. A prateleira dos últimos suspiros), que de fato fora escrito antes da publicação de Por que a criança cozinha na polenta, é publicado postumamente. Em 2004, é publicado o projeto em que a autora trabalhava pouco antes de sua morte: uma coletânea de contos e fragmentos literários, intitulada Vom geräumten Meer, den gemieteten Socken und Frau Butter.
Obras:
• Ein Totentanz: Geschenke. Zürich, Edition Peter Petrej,1999.— Warum das Kind in der Polenta kocht. Stuttgart, Deutsche Verlags-Anstalt, 1999. — Das Regal der letzten Atemzüge. Stuttgart und München, Deutsche Verlags-Anstalt, 2002. — Vom geräumten Meer, den gemieteten Socken und Frau Butter. München, Deutsche Verlags-Anstalt, 2004.
Biografia: Wikipedia
TEXTOS EM PORTUGUÊS
INIMIGO RUMOR – revista de poesia. Número 17 – 2º SEMESTRE 2003. Editores: Carlito Azevedo, Augusto Massi.
Rio de Janeiro, RJ: Viveiros de Castro Editora, 2005. 264 p.
ISSN 415-9767. Ex. bibl. de Antonio Miranda
Tradução de FABIANA MACCHI
ROSMARIE
Meu tio A Viagem tem uma
mala cheia de vozes. É uma mulher e um cão.
E o cão se chama Rosmarie. E a tia tem um outro
nome. E o tio se chama A Viagem, embora nunca tenha
estado no exterior. Ele passa diariamente 8 horas em seu
quarto; ninguém sabe o que ele faz lá dentro. Quando alguém
lhe pergunta, ele diz: eu me imagino sentado no
quarto. À noite, ele vai ao restaurante italiano da
esquina e come lesmas com limão. Mas lesma nem
é comida italiana, diz uma mulher. E o tio diz: e daí?
Após a grapa ele retorna e vê o dia
na televisão. Depois anda pela casa e faz uma cara.
Até hoje ninguém viu a mala cheia de vozes.
E o tio conta cada vez uma história diferente: quando estou no
quarto e me imagino sentado no quarto,
tiro uma voz de dentro da mala e mando-a calar-se. As
vozes na mala são como macacos, mal saem e
já sobem pelas cortinas sou arrastam-se sob
o tapete ou entram apelas pernas das minhas calças.
Então a tia vai para a cozinha e bebe vinho branco.
O copo metade vazio da sempre recoloca
no armário. Frequentemente retorna à cazinha, e todas as
[vezes
ouve-se ela abrir e fechar a porta do armário. À
noite, os seus olhos estão boiando em vinho branco. E
[enquanto
o tio A Viagem escuta o silêncio de sua mala de vozes,
escuta-se a tia soluçando no banheiro.
No dia seguinte, o tio conta que, no sonho, ele
morava em um refrigerador.
E a tia diz nada em voz alta.
E às vezes ela se enfia na cama em pleno dia.
E o tio sai para a rua em plena noite.
E a tia vai à igreja e acende uma vela.
E o tio conta ao vizinho que tem negócios
no exterior, que se tornou criador de minhocas.
E a tia sorri.ss
E o tio pendura uma tabuleta na porta:
HOJE FECHADO
E o pior desta história é que ninguém
se importa com o cãozinho Rosmarie.
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Struza Bulandra, considerada como uma das mais importantes figuras da história do teatro da Romênia:
STURZA BULANDRA
Na verdade, ela ainda vive e sofre de
obsessão. Dia desses, mancou trancafiar seus
admiradores num armário e afogá-los num poço.
A atriz Susana Bulandra tinha tão pouco talento que,
durante as suas cenas, até as cadeira do teatro adormeciam.
Suas pernas criaram varizes, e aí ela se matou.
Na verdade, ela se casou, teve três filho, ficou
roliça se satisfeita e cheirava sempre a torta de maçã.
Um dia ela perdeu a memória e esqueceu-se de acordar.
Verdade verdadeira é só que ela se chamava Susana Balandra
se que não tinha nenhum talento e que preferias papéis
[trágicos,
de saias longas, por causa das varizes.
E quando ficou velha, bem velha, fingia-se jovem e
parecia uma menina. No asilo, ficava sentada
o dia inteiro em frente a um pequeno espelho, penteando-se.
Duas vezes ao dia, davam-lhe um comprimido. E, certo dia,
ele simplesmente parou de se pentear. E ainda
viveu por muito tempo.
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Página publicada em dezembro de 2023
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